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29 de set. de 2011

Testemunho torcedor


 Isto não é uma crítica esportiva, e às vezes até me meto a fazer uma ou outra, acho até que dou conta. Mas não hoje. Isto é um testemunho de uma experiência de torcedora.

Paraense tá habituado a engrossar caudalosos rios humanos, fazemos isso todo mês de outubro. E a poucas semanas do Círio, com o clima nazareno já se espalhando pela cidade, fomos levar nossas águas a correr rampa acima no Mangueirão. Um leito de povo de amarelo fluía constante e pacífico em direção às arquibancadas do Estádio Olímpico Edgar Proença. Do lado de fora já era um espetáculo arrepiante: era minha primeira ida ao estádio, ao Mangueirão, e estreei num jogo do Brasil. Contra a Argentina. Tinha de ser de gala.

Minha euforia surpreendia até a mim mesma. Lugares escolhidos, família instalada, eu olhava praquele estádio lotado-lotando com expressão apalermada. A galera já ensaiava gritos, mas por enquanto o clima era mais local: de um lado um empobrecido "Reeeemoooo", donde vinha a resposta, cheia de conteúdo e esperança "Vamo subir Papãããão!". Engrossei o coro da resposta com gosto! Eu não ia provocar, mas se os azulinos começam, a gente é obrigado a lembrá-los da diferença de perspectivas, né? ;P

Vaias para os argentinos que vieram se aquecer antes, vestindo tenebrosos uniformes azul marinho. Queriam agradar a quem? Aos poucos, começando pelos goleiros, a Seleção começa a se apresentar ao Manga. Só consigo imaginar que a única sensação que ultrapassaria o êxtase de estar ali deveria ser a de entrar pelo campo num estádio como aquele e ver aquele povo gritando por sua causa. Espero que pelos menos alguns jogadores tenham sentido isso naquele momento.

Pensei em puxar o grito de "Ganso! Ganso!", mas me bateu aquela timidez de estreante.

O hino era favas contadas, eu já sabia que ia chorar. Mas daquele jeito foi covardia... Minhas pernas bambearam, minhas mãos tremiam, os braços arrepiaram.

E o pacote foi completo. Não bastasse a vitória, fiz ola, gritei gol duas vezes (e não sofri nenhum!), gritei "olé!", mandei juiz tomar no cu (depois o Emerson até me disse que naquele lance o juiz tinha razão, mas eu sinto muito; eu lá podia perder a oportunidade de xingar juiz no meu primeiro jogo?), gritei "É campeão!". Tudo o que eu podia esperar de um jogo, como torcedora (talvez não como comentarista esportiva, mas eu nem sou...). Teve chapéu, teve pedaladinha do Neymar, teve Ronaldinho Gaúcho, meu maior ídolo do futebol, teve muito jogador com garra e vontade. Foi lindo. Só posso dizer que foi lindo, que foi uma das noites mais memoráveis da minha vida. Podem chamar de pão e circo, podem chamar de ópio do povo. Eu chamo de paixão. Aquilo ali é natural, aquela veneração pela camisa amarela, aquilo é real, vem de berço, de sangue, de nação.

Foi lindo.