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2 de ago. de 2014

Liberdade de expressão e redes sociais, ou "Ninguém pediu sua opinião"

Aqui em casa tem o #teamFacebook, representado por mim, e o #teamTwitter, defendido ardorosamente pelo meu marido. Ambos estamos em ambas as redes sociais, mas temos nossas preferências, de acordo com o uso que fazemos da internet. Meu marido consome informação e opiniões. Eu dou minha opinião, escrevo e converso. Sempre tive, na vida, muito pouco interesse pela opinião alheia, sobre as coisas, sobre o mundo e sobre mim. Na internet não tem muita opção. A não ser que você esteja no twitter e não siga ninguém, esteja no Facebook e já tenha tirado todo mundo do seu Feed de notícias, você será invariavelmente alcançado pela opinião alheia sobre tudo.

Muitas vezes isso é algo muito legal. Já fiz amizades por redes sociais ao encontrar pessoas que compartilhavam comigo gostos (costuma ser o primeiro atrativo) e opiniões (só assim é que as pessoas vão ficando na minha vida). Eu gosto de trocar opiniões com essas pessoas sobre assuntos que nos interessam ou descobrir novos assuntos seguindo-as nas redes sociais, porque temos muito em comum e muitas vezes acabo descobrindo algo novo que também me interessa.

Essa é a parte boa.

Como já dizia o Tio Ben, "with great power comes great responsibility", e ele deveria ter acrescentado aí a liberdade também. A liberdade exige responsabilidade. Sim, você tem liberdade de dizer o que quiser nas internetes (e eu tenho direito de ouvir ou não, thanks God for the block). E o grande atrativo e perigo da internet é que, na imensa maioria das vezes, você jamais será responsabilizado pelo que disse. E ultimamente, tudo tem sido confundido com "opinião". E nem tudo é opinião. Existe ofensa e existe julgamento. E existe coisa pior: ameaça e violência verbal.

Vou explicar como se você fosse uma criança de três anos.

Você viu um filme.

Opinião: "Eu achei esse filme mais ou menos. Acho que Beltrana atuou bem, mas Fulano me pareceu meio fraco para o papel. E o roteiro deixou a desejar."

Julgamento: "O filme é horrível, não vão ver essa porcaria. Beltrana está velha e gorda e Fulano nunca mais vai ser o mesmo depois das drogas. Esse povo de Hollywood pode fazer 500 rehabs que não adianta, sempre voltam."

Ofensa: "Essa vaca da Beltrana é uma puta mesmo. Bosta de filme, o diretor é aquele imbecil filho da puta que já tinha acabado com aquele outro livro que eu adorava. E o Fulano, aquele viadinho cheirador,  não merecia aquele papel!"

Deu pra notar? Pode ficar pior.

"Porra, Fulano devia ter levado uma surra só de ter aceitado o papel! Viado! Se meterem uma bala na cabeça dele eu vou achar é pouco por ter destruído meu personagem favorito! Se passar na minha frente agora eu mesmo meto a bala! Morraaaaaaaa!! Bora acabar com a carreira desse filho da puta!!"

"Como é que alguém ainda dá algum papel pra essa ridícula da Beltrana? Ela não se enxerga?? Velha ridícula!! Não admira que o marido tenha trocado ela por outra novinha, essa gorda velha e caída ninguém mais vai querer! ahahahahahaha!"

*suspiro*

Qual a diferença?

Você tem TODO o direito de não gostar de alguma coisa. Não gostou? Não veja mais.

"Mas isso é inofensivo, é só na internet, eu nunca vou ver essa pessoa, menos ainda meter uma bala nele!"

Então vamos transferir o discurso do ator do filme para um jogador de futebol. Agredido por membros de uma torcida organizada, insatisfeitos com o desempenho dele em campo. Ele trabalha, se esforça, ganha o salário dele, deve ser tratado com respeito. Não é pago pra divertir você, não é seu empregado nem seu palhaço. Ele trabalha praquele clube, e se vc gosta daquele clube, bom pra vc, mas isso não lhe dá direito algum sobre a vida do cara. E as merdas que vc escreve sobre ele na internet serão lidas pela família dele, pelos filhos e por ele mesmo.

E vamos transferir esse trashing da rica atriz de Hollywood para qualquer mulher cuja foto fica sendo repassada sem critério nem permissão para ser alvo de piadas de gente que ela nunca viu porque ela é feia, gorda ou qualquer coisa que te desagrada e que vc se dá o direito de achar engraçado. Aí depois todo mundo fica indignado com aquelas tristes histórias de adolescentes que se matam por serem vítimas de cyberbullying. Isso que vc está fazendo É CYBERBULLYING. Aquela pessoa na foto que vc ridiculariza e compartilha, aquela pessoa existe, aquela pessoa tem família, tem amigos, trabalha, estuda, aquela pessoa tem internet, sua besta. Vc acha que ela não vai acabar vendo isso? Ela tem tanto direito a ser feliz quanto vc e não lhe deu o direito de rir dela nem de ofendê-la. Não faça dela uma piada.

Isso não é opinião. Isso é ofensa, e é crueldade. Isso é um perigo.

Eu não quero mais tolerar esse tipo de coisa. Estão avisados.

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