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11 de nov. de 2014

Um desabafo sobre a patética questão de gêneros em bebês

Então vc está grávida, então vc descobre o sexo do seu bebê e então vc decide que não tem a menor intenção de enfiar o seu filho num modelo engessado de meninos x meninas desde a mais tenra idade, porque isso é ridículo, é claro. Então o quarto onde ele vai viver, que já antes tinha uma parede rosa, continuará tendo. Então vc compra kits de berço com motivos de bichos e lençóis de cores variadas: verdes, lilases, rosas, azuis, xadrezes, listrados, floridos. Então vc compra uma mala de maternidade vermelha e bege. Então vc compra mamadeiras rosas, azuis, vermelhas, verdes, roxas. Roupas lilases, laranjas, amarelas, brancas, azuis, meias rosas, roxas.

Parece fácil, mas não é. Volta e meia vc olha pro berço e se dá com um menino (LINDO) vestido de azul dos pés à cabeça. Como isso aconteceu? Fora os presentes (porque as pessoas dão quase tudo azul mesmo pra ele), existe uma grande dificuldade na decisão de um bebê neutro, livre de estereótipos de gênero. A falta de opção.

Eu vou comprar roupa pro meu bebê e a primeira coisa que me perguntam, obviamente, é se é menino ou menina. Isso será o divisor de águas na hora da compra. Meias, por exemplo. Menino, eu respondo, sempre acrescentando que não tenho a menor frescura em ver tb os itens para meninas, por favor. Mas existem lojas onde NÃO HÁ ITENS NEUTROS. Ou seja, ou vc compra meias de carrinhos de polícia e bolas de futebol americano ou meias com rendas, glitter e fitas de sapatilha de bailarina. Acontece que se eu decidi não engessar meu filho nos modelos preconcebidos de gênero eu tb não tenho o direito de determinar q ele vai ser crossdresser, certo? Não sou do tipo que se ofende se perguntam "qual é o nome dela?", porque já li em fóruns de mães que muitas se ofendem! Li coisas do tipo "mesmo que esteja vestido dos pés à cabeça de azul, me perguntam qual é o nome dela! que raiva! tenho vontade de mostrar o pinto do meu filho!". Juro, li isso. Eu simplesmente respondo o nome e digo, "é menino". "Ah, desculpe", me disse um dia a vizinha que se confundiu. Que é isso, amiga, não peça desculpas, vc não ofendeu meu filho!

Bebês são muito semelhantes, pouco cabelo, nenhum dente, não tem barba, voz grossa ou fina, peitos ou pelos pra te ajudar a dar uma pista do gênero. Mas por que isso teria que ser um problema? Algumas décadas atrás, todos se vestiam igualzinho, com camisolões e camisinhas. Quando eu nasci não existia ultrassom pra determinar o sexo, e as roupas de bebê eram, obrigatoriamente, neutras. Então por que diabos agora eles já têm que ir na primeira consulta da pediatra parecendo bolotas de pano rosas ou azuis? Criou-se um verdadeiro desespero por poder determinar o sexo dessas pessoinhas no primeiro olhar. Nem com crianças mais velhas é assim! As roupas já ficam mais coloridas, democráticas. Sim, claro, pois àquela altura vc já furou a orelha da menina, o cabelo dela já está comprido, ela já foi ensinada a brincar de boneca, já aprendeu um certo número de comportamentos femininos, e já não precisa andar de rosa dos pés à cabeça, pobrezinha. Ganhou direito às cores. Embora, é claro, os meninos jamais ganhem direito ao rosa. Na primeira consulta do meu filho na pediatra ele foi de cinza. Ele era a única criança de colo ali que vc não conseguia identificar o sexo só de olhar. A única. Quer saber? Eu me orgulhava disso. Ele saiu da maternidade de laranja. Lindo de morrer. Mas é difícil, é uma luta diária.

Eu queria um short, e os shorts para bebês mais velhos (tamanhos a partir de 9 meses, por exemplo) já estão muito caros, porque imitam em tudo as roupas de homens adultos, até passador de cinto e bolsos a porcaria já tem. Sessenta reais num negócio que ele vai usar menos de dez vezes?? Aí vc vai no setor feminino (eu SEMPRE vou nos dois) e tem umas peças de malha super fresquinhas e confortáveis por vinte e poucos reais, completamente floridas ou de oncinha. E aí? Levo ou não levo? Me achei numa arara de shorts supostamente femininos por menos de vinte reais e que só tinham duas cores, roxo e branco, azul e branco, e até hoje não entendi por que eram femininos.

No dia que eu fui comprar o cercadinho do meu filho escolhi um amarelo muito muito lindo. Eu ia tb levar chupetas, e peguei um kit com duas chupetas rosa. Atenção: só tinha kit com chupetas rosa e kit com chupetas azuis. Somente. Nenhuma outra cor. Peguei a rosa porque achei mais bonita mesmo. Na hora de pagar pelo cercadinho, vi que só tinha o amarelo com a caixa toda aberta e arrebentada, e eu odeio comprar produto assim. Disse que não queria, e a vendedora disse que então só tinha rosa. Ok, me dê o rosa. Enquanto ela buscava o rosa, voltei na gôndola das chupetas e troquei pelo kit azul, achando que já tava ficando rosa demais aquela compra, pq tb não quero vestir meu bebê "de menina" tanto quanto não quero vesti-lo "de menino". Achei q estava ficando louca, achei que dava um trabalho encaralhado tentar equilibrar as compras, as escolhas, será que não era mais fácil fazer como todo mundo? Só que se eu fizesse como todo mundo eu voltaria pra casa naquele dia com um cercadinho numa embalagem violada ou sem cercadinho ou ainda com um cercadinho muito mais caro (pq aquele lá tava super em oferta). Sei q tem gente (muita gente) q faria isso mesmo. Q não compraria o cercadinho rosa para o menino nem q fosse pela metade do preço. Eu comprei. Mas tenho uma certa vergonha de admitir ter voltado pra trocar as chupetas (e fui burra, devia ter levado os dois kits, um rosa e um azul, q o preço tb tava ótimo).

Mas é ótimo poder reconhecer que nem todo lugar é assim. No caso das meias, na Puket tive dificuldade para achar meias neutras, mas na Lupo não. Pretas, brancas, beges, xadrezes, fiz a festa por lá. Alguém me explica, por exemplo, por que uma meia de tubarões não pode ser de menina? Porque é azul? E por que uma meia de corujas de óculos (sim!! pode mais Harry Potter que isso??) tem que ser de menina? Só por ser rosa e roxa? Um body com desenho de passarinho e uma camisa do Brasil que são "de menina" porque têm um elástico no pescoço que faz um "franzidinho". Hein?

Gente... Que mundo é esse?

Isto não é daqueles posts bonitos nem nada, é só um desabafo. Por que tem horas que pensar dá no saco.

2 comentários:

  1. Adoro teus desabafos, querida. Continue pensando, ficando de saco cheio e me alegrando em te ler. Ah, estou com você, de cabo a rabo!

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  2. Bruna!!! Ainda não tenho filhos, mas penso como você. Eu mesma, a caçula de um casal de filhos, herdei muitas roupas do meu irmão. E outro detalhe: Minha cor preferida é azul claro, (depois que cresci tb passei a amar o roxo) e só passei a gostar de rosa depois de adulta (mesmo assim tem que ser rosa chegay...rs). Outra coisa que sempre me incomodava eram os brinquedos.... carrinhos de controle remoto são muito mais legais do que um bebê que chora quando vc balança....
    Enfim, esse texto todo só pra aplaudir de pé a sua atitude! Quando tiver filhos me inspirarei em você!

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tá com você!