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24 de jan. de 2012

Um olhar sobre Sherlock

*escrevendo sob impacto*

Eu sempre soube ser uma fã apaixonada. Acho que tem gente que nasce com esse gene, o da tietagem, e essas pessoas conseguem dedicar paixões imorríveis a gente inalcançável ou gente inexistente. E fã cria relações por vezes extremadas com esses objetos de paixão.

Vocês já sabem um pouco da minha história com Sherlock Holmes. Eu o conheci sob a capa dura do Círculo do Livro, aos 11 anos de idade, e antes da maioridade já terminara toda a coleção de sete volumes. Lembro de render o último volume. E depois disso, de os reler.

Meu respeito pelo personagem beira a religião. Lembro-me de ter implicado de algum modo com quase todas as adaptações já feitas, embora eu goste de algumas, sim. Nenhuma, porém, me arrebatou. Somente aquela que mais o alterou e mais o preservou. Simultaneamente.

Gênio, é de um gênio a ideia de que apenas deslocando em mais de um século toda a história desse personagem é que seria possível fazer jus ao seu tamanho. Foi a liberdade da anacronia temporal que deu à dupla Gatiss-Moffat o ambiente perfeito para explorar com cuidado e respeito a personalidade magnética de Sherlock Holmes, tornando-a atraente para o público atual sem desmerecer em nada o Sherlock Holmes original.

Sim. Eu tenho um dedoche magnético do Sherlock Holmes.

Desde o princípio uma das coisas que mais me fascinou na série Sherlock foi a eficiência com que transferiam não os casos, mas as deduções de Sherlock Holmes dos livros para a tv, ainda que em casos completamente diferentes que não guardavam senão semelhanças quase brincalhonas - entre títulos e outras referências - com os enredos originais.

Porém há sim algumas diferenças que considero significativas.

1) Moriarty: Jim não é "professor" e é slightly more maniac do que o Professor James Moriarty original. Provavelmente é o personagem mais alterado, mas na verdade tinham pouco em que se basear porque...

2) Moriarty existe desde sempre: nos livros, James Moriarty é criado para matar Sherlock Holmes e o único caso em que aparece é justamente "The Final Problem". Aqui não, eles antagonizam desde o começo.

3) John Watson não se casa nem exerce a medicina: a vida dupla do dr. John Watson era muito mais plausível nos livros. Na virado do dezenove pro vinte seria pouco provável que o rapaz pudesse continuar vivendo só de assessorar um detetive e relatar suas histórias. Ainda mais quando passou a sustentar uma esposa. Ela, no caso, como bem lembrou o Emerson, era bem mais fácil de ser escondida nos livros. Na série ficaria estranho, visto que ela de fato nunca mais aparece nos enredos dos casos, só mesmo naquele em que ela é introduzida, "The Sign of Four".

O que é semelhante, quando não igual?

A) Sherlock Holmes: a lógica, o ar blasé com que desvenda as menores e maiores coisas, a excitação com os grandes casos, a irritação com o que não lhe desafia, a hiperatividade x a prostração (bipolar? a se pensar...), a determinação (palavrinha mais batida, né? mas é), o conhecimento imenso de coisas ridículas (tipos de tabaco) e de coisas úteis (mapa de Londres), os métodos pouco convencionais (a rede de mendigos informantes), a androginia-misoginia-atitude-nem-aí-pra-sexo, a agilidade na fuga. [falta mostrar que ele é bom de briga e de disfarces, mas ainda temos tempo]

B) Holmes + Watson: ou, no caso aqui, Sherlock + John. Companheirismo, amizade, mau humor, falta de respeito (do um pelo outro, claro). Aquele jeito irritantemente quase carinhoso que o Sherlock tem de mostrar ao John como é óbvio tudo aquilo que ele deduziu. A imorredoura estupefação de John. Sherlock é sim duro, mas nunca se deve duvidar da amizade e da forte ligação que há entre os dois. Sherlock precisa de John, sabe disso e não se envergonha. [falta mostrar que John se arrisca na dedução, Sherlock até fica orgulhoso, mas o pobrezinho sempre erra tudo, mas ainda temos tempo. quanto tempo?]

C) Mrs. Hudson: pode parecer pouco, mas a presença reconfortante de Mrs. Hudson é que te garante que tudo ali está no lugar, e ela é perfeita, dosada, na medida. Vivas para ela.

D) Holmes + polícia: embora só Lestrade esteja presente (cadê o Gregson? ainda temos tempo?), a relação arranhada é aquela ali.

E) Mycroft: preciso dizer que ADORO Mycroft Holmes. Nos livros E na tevê, mas devo dizer que não sabia se o classificava no que mudou ou no que foi mantido. A relação entre os irmãos, de admiração, competição e confiança, está bem retratada. Mycroft é de fato um homem poderoso dentro do governo britânico e pede ajuda a Sherlock algumas vezes. Mas falta o algo que me atraiu sempre em Mycroft. O mesmo talento do irmão mais novo, senão mais, porém nenhuma intenção-disposição de correr atrás de bandido nem de fazer disso profissão. Mycroft era o único que podia corrigir Sherlock. Mesmo que tenhamos tempo, não sei se ainda faria sentido incluir isso no Mycroft da tevê.

E aí a pergunta é: ainda temos tempo? Quanto tempo temos? Comecei a ficar genuinamente preocupada quando vi a quantidade de títulos de casos que foram "queimados" en passant no episódio da Irene Adler. The Speckled Blond, The Geek Interpreter, The Six Thatchers. Se a intenção for sempre a de se inspirar nos casos escritos por Conan Doyle, que não são muitos, queimá-los assim no atacado só pode significar uma coisa: esta série não vai durar muito tempo. Além da miserável quantidade de episódios por temporada, não haverá muitas temporadas, visto que ao final da segunda já chegamos ao clímax do Problema Final.

Agarremo-nos ao conforto de que não durará tempo suficiente para perder o rumo...

Spoilers em branco abaixo:

- Molly trocou os corpos? Quando? Já embaixo, provavelmente. Como se deu a rápida transformação, que Jim já fizera antes, ao sequestrar as crianças, é claro. Quem era o homem na bicicleta, atropelando John? Mycroft? Aguardamos ansiosos "A Casa Vazia"...

3 comentários:

  1. Esse seriado é uma obra prima, dá para ver que foi feito com paixão - esta que foi transferida para mim, viciei feio. As adaptações só acrescentam ainda mais para a história, sem perder nem um pouco da essência dos livros (á, eu só li três, mas dá para perceber).

    E infelizmente não vai ser uma grande série mesmo. A 3ª temporada foi confirmada mas uma 4ª não deve acontecer...mas por um lado é bom, não haverá desgaste da fórmula. Melhor termos um programa curto divino do que um longo mediano e entediante, não?

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  2. Uma delícia ler esse texto. Me fez lembrar da primeira vez que vi a 2a temporada. Eu fico preocupada também quando eles danam a falar nomes de um monte de histórias (malucos, todos eles!). E você tem um dedal de Shezza!!!! Que lindo. <3

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    1. não é um dedal é um dedoche, um bonequinho de pano que cabe no dedo. e não é do Shezza, olha o respeito, é do Holmes! só o Sherlock da tv é que dá essas intimidades! rs

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tá com você!