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9 de mai. de 2014

Somos todos mamíferos

Meu filho está tomando mamadeira. 

Que comecem os julgamentos!!

Li um monte de coisas sobre amamentação durante a gravidez. Queria amamentar, nem era apenas um querer, era uma convicção de que isso era o certo, pra mim nem era opcional (PRA MIM!). Me informei, inclusive passei por uma informação não muito promissora, que dizia que plásticas de redução mamária poderiam atrapalhar a produção de leite (e eu fiz uma dessas aos 18 anos), mas não deixei que isso me abalasse. Eu tinha bons bicos, era o que diziam. Eu ia ter bastante leite.

Na maternidade, nada mais que gotas de colostro. Normal, diziam. Agora, além de dizerem que eu tinha bons bicos, acrescentavam que meu bebê era ótimo de mamada. Tinha uma boa pegada, sugava bem, tudo muito verdade! O leite ia descer. Aprendi como segurar o seio, massagear, as melhores posições pra colocar um recém-nascido pra mamar numa mãe obesa. Tudo.

Fui pra casa com meu bebê, que mamava em livre demanda. Era só querer, e eu dava o peito. Era toda hora. A cada dia que passava, mamadas mais longas, intervalos menores. Não conseguia botá-lo pra arrotar, ele continuava procurando peito, resmungando. Insatisfeito sempre. Frustrado, até. Até em casa me diziam que, se ele mamava tanto, é que tinha leite. Mas eu me ordenhava, e só vinham as tais gotas. O bico do meu seio esquerdo (o que tinha um pouco mais de leite) doía terrivelmente cada vez q o bebê abocanhava (mesmo que ele abrisse bem a boca, direitinho, como beicinho pra fora), mas eu dava. Alternava os seios nas mamadas, cada vez mais preocupada, cada vez mais estressada, sentindo que eu não estava saciando a fome do bebê.

A primeira consulta na pediatra estava marcada pra semana que vem, mas eu não me dei por satisfeita. Com uma semana de vida, levei ele lá, nem que fosse pra pesar. Dito e feito: tinha perdido mais peso do que seria aceitável na primeira semana. A médica me ordenhou. "Mas minha filha, você não tem leite!", ela disse. Fiquei aliviada, juro! Alguém via o que eu estava vendo! Uma solução, por favor, não quero que meu bebê fique com fome, porra! Se tivéssemos ido na pediatra só na segunda semana de vida, ele estaria desnutrido.

Cheguei em casa chorando de alívio, meu marido dizia que nunca mais ia duvidar dos meus instintos no que diz respeito ao nosso filho. Ele achava que ia rolar, que ia dar certo, ele achava até que o bebê estava mais fortinho. Eu via que não. Sei que ele queria me incentivar, ele sabia o quanto eu queria amamentá-lo. Dar a primeira mamadeira, ver a cara de satisfeito daquele bebê, enfim com a boca cheia de leite... Chorei de alívio de novo.  Eu nem sabia pra que servia o tal do paninho de boca. Ele nunca sujava a boca, né? Não conseguíamos fazê-lo arrotar. Mas é claro, ele ia arrotar o quê? Agora ele estava de barriga cheia. Dormiu um sono tranquilo, satisfeito, e não o sono agitado, sono de dormir exausto de mamar, como nos seus primeiros dias.

Minha irmã, que tb fez uma plástica corretiva nas mamas há muitos anos, tb não teve leite suficiente para dar aos seus dois filhos. Uma vez comentei isso com uma amiga, qdo eu estava grávida, e ela disse (aí vem o julgamento!!): "ah, desculpa, mas não foi leite o que ela não teve, foi paciência".

WAIT, WHAT?

Meu primeiro sobrinho completou um mês com o peso que tinha ao nascer. Chorava de fome. Paciência? Que paciência se deve ter quando seu filho está com fome?? Sim, existe mulher que não tem leite, e as razões podem ser muitas! Não é tudo fraca-burra (a galera do parto, lembram do post anterior?). Há mulheres que choram porque queriam tanto amamentar seus bebês só no peito e não conseguiram, e além de ficarem tristes e frustradas por isso, temem ser julgadas como mães ruins. Cruel, né?

Eu continuo dando peito quando ele quer, entre as mamadeiras. É o que quero, e é orientação da pediatra. Meu leite não será o alimento principal dele, o que lhe dará "sustança", mas será remédio, vacina, vínculo, calmante, estímulo pro meu leite.

E pra quem diz "ah, e os índios, fazem como? E na idade da pedra, que não tinha mamadeira?". Bebês morreram de fome, vc acha que não?

Mas não o meu bebê. Ele tá dormindo saciado e feliz aqui do meu lado.

3 comentários:

  1. Novamente. Eu tive leite. Bastante. Eu me alimentava com tudo o que era indicado. Mas a minha filha com 2 meses de idade ficou anêmica e eu chorava de desespero. A pediatra me disse: "Mãe, não é culpa sua. Você tem o leite, mas sua filha tem tamanho de uma criança de 6 meses, não tem como você passar todo o ferro que ela precisa." E assim a Ju, muito cedo, não dependeu somente de aleitamento materno. Eu acho uma coisa muito chata essa de julgar os outros, de aceitar algo como verdade imutável, sem ver casos e casos. Se o leite da mãe não é suficiente para alimentar, não dá, ué. E nós que não vamos largar nosso filho morrendo de fome porque se convencionou que todo e qualquer bebê só pode crescer saudável se for alimentado exclusivamente pelo leite da mãe até os seis meses. Beijão!

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  2. Eu não julgo nenhuma mãe e nenhuma decisão desse tipo. Só uma informação, depois de 1 mês de vida o bebê deve ter o mesmo peso de quando nasceu, é o que se espera. E Bruna passei exatamente pelo que passaste. Para produzir mais leite a mãe deve descansar o que não estavas fazendo. Tinha mais a te dizer mas, pelo que vi, tua decisão está tomads e acho que estás coberta de razão! Bjocas

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  3. Que via crucis Brunhilde! Ainda bem que só sobrou como história a contar.

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tá com você!