Páginas

2 de nov. de 2011

O Dia do Curinga - um tweet grande demais

Isto aqui eu comecei a tuitar, mas percebi que ia ficar muito grande pra um microblog, por isso vim pro blog. ;P

Cada vez, cada uma das (muitas) vezes que eu releio O Dia do Curinga, leio com a avidez da primeira leitura, bebendo as frases, cheia de sede, como se não soubesse o que vai acontecer na próxima página. Sempre sonhei, durante toda a minha vida de leitora, com um livro que eu pudesse reler experimentando a mesma emoção, o mesmo prazer que senti quando da primeira vez. O Dia do Curinga é esse livro.

Embarco na viagem e na leitura de Hans-Thomas como se fosse a mesma viagem de 1997, como se eu tivesse de novo 19 anos e usasse meu vestido verde escuro, e estivesse no Grêmio Literário Português transcrevendo documentos, fichando livros pro meu orientador da graduação com este mesmo livro de capa verde enfiado na bolsa, aproveitando intervalos pra ler na janela, furtivamente (ninguém me vigiava trabalhar, mas eu tinha um prazo). E a cada vez é como na primeira. A aventura de Frode, Albert, Ludwig e Hans-Thomas tem tamanho poder sobre mim, mais que eu podia imaginar em 1997 que pudesse vir a ter.

Antes de reler O Dia do Curinga pela primeira vez eu ainda não sabia que ele era o livro que me garantiria a realização desse sonho de leitora, o sonho de um livro imorrível, incansável, ingastável. Quando li Aqueles Cães Malditos de Arquelau, no ano seguinte (eu ainda não havia relido o Curinga), desejei poder ler novamente o mesmo livro com o mesmo impacto. Daí comprei O Manuscrito de Mediavilla, do mesmo autor (Isaias Pessotti), e quase que isso aconteceu. Mas não era a mesma coisa, porque na verdade percebi que o Pessotti escrevia livros muito parecidos, e isso acabou sendo chato e aborrecido. Quando li A Lua da Verdade tive certeza de que ele tinha um molde muito repetitivo de enredo, e me decepcionei.

E acho que foi em 2000, três anos depois da primeira leitura, que reli pela primeira vez o Curinga. Foi no Rio, numa visita à minha irmã. E foi de novo mágico e impactante. Nunca mais deixei de reler, faço isso quase todos os anos desde então.

Não é um livro que te ensine uma grande lição sobre a vida ou algo sobre a história dos homens. Não. É uma fábula de uma situação que provavelmente você nunca viverá: a criação de seres. Mas ainda assim, não sei se posso explicar, esse livro me abre os olhos como se eu visse o mundo pela primeira vez. É o que a filosofia pretende fazer com os homens, ou pelo menos é o que dizia o professor de filosofia da Sofia, aquela cujo Mundo vendeu pra caramba e foi quem me fez ler o Curinga.

É bom que todos saibam que O Dia do Curinga foi escrito antes de O Mundo de Sofia, o qual foi escrito PARA o Hans-Thomas, personagem principal do Curinga. Simplesmente porque Jostein Gaarder se deu conta de que não havia um livro de filosofia para alguém da idade do Hans-Thomas (12 anos), e resolveu fazer esse mimo pro seu personagem. A diferença entre Hans-Thomas e Sofia pode ser resumida assim: Sofia é uma aluna de filosofia; Hans-Thomas é um filósofo.



"Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos entendê-lo - disse ele, e fez uma pausa -, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo." [p. 171]


"Pois quando a gente entende que não entende alguma coisa é que a gente está prestes a entender tudo." [p. 211]

3 comentários:

  1. Compartilho do mesmo sentimento por este livro.

    E Obrigado pelo post, me deu vontade de ler novamente.

    ResponderExcluir
  2. Rafael, esse livro tem um poder mágico brutal, não é mesmo? Pois releia! Relendo um livro a gente aprende até sobre nós mesmos, dá pra ver como mudamos entre uma leitura e outra, o que nos interessou mais antes e o que nos interessa agora.

    ResponderExcluir
  3. Puts, até que enfim alguém encontro alguém que leu "Aqueles cães malditos de Arquelau". Achei que eu era um dos únicos... :)

    E quanto ao dia do curinga...saudades da Panina Manina.

    ResponderExcluir

tá com você!