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25 de mar. de 2015

The Bridgertons

Tem alguns autores que, antes de ler, eu já sei que vou virar fã. Eu sabia que ia me viciar em Julia Quinn. Demorei para começar a ler porque sabia que quando começasse não ia conseguir parar tão cedo. Esperei uma pausa na inspiração, um descanso nas traduções, uma rotina mais tranquila com o bebê, e comecei. Logo pelos Bridgertons, aparentemente o melhor que JQ já fez. Isso tem umas três semanas, mais ou menos. Terminei hoje o sexto livro da série. É. Já dá pra concluir que eu gostei, né?

Julia Quinn escreve nos anos 2000 histórias que se passam no século 19, e isso é bem interessante. Tem muito cuidado envolvido com a linguagem usada, mas não deixa de ser um livro escrito dois séculos depois. O romance é muito mais quente do que Jane Austen (a quem JQ foi comparada) jamais teria ousado. Não que Austen seja pouco ousada, mas cada pessoa é filha do seu tempo, né?

Não pude deixar de notar, porém, as implicações de escolher contar suas histórias num passado distante. Pelo menos nos seis livros que li isso criou algumas situações notáveis. Estamos na Inglaterra dos 1800, dentro de um círculo muito restrito: a elite. Mais que a elite, a aristocracia. Estamos falando de gente rica ou de uma baixa nobreza nem tão rica, mas é muito pouca gente. A coisa se torna ainda mais estreita quando a autora se concentra num tipo de evento: o mercado casamenteiro. Prepare-se para cansar de ler sobre mães de debutantes e bailes intermináveis que se seguem sem cessar. As regras sociais desse mundo, e dentro desse âmbito, são estabelecidas, não há muita variação. Não há mutas formas diferentes de conhecer alguém, não há muitas formas diferentes de cortejar alguém, enfim. Muita coisa se repetirá. Isso não é necessariamente ruim. Tem um tipo de literatura de conforto que me atrai muito, na verdade. Eu leio Agatha Christie aos montes, e é um formato. Vc sabe mais ou menos o que esperar. Eu gosto disso. Mas eu acho que algumas coisas não precisavam se repetir tanto nesses livros. Vou chegar lá, calma aí.

Outra implicação que achei bem curiosa na escolha do período é o machismo. É claro que não se pode esperar outra coisa, estamos falando de dois séculos atrás. Moças que precisam casar virgens, enquanto os rapazes não precisam. Ela é inocente, não sabe de nada, ele sabe de tudo, é o sedutor, ensina tudo pra ela. Não deixa de ser conveniente pra um romance, sabe? É um dos grandes problemas de escrever romances de amor, conseguir se libertar dos papéis estereotipados de homem e mulher. Mas quando vc escolhe situá-lo no século 19 isso deixa de ser um problema. Não corre o risco de sofrer o tipo de crítica que sofre uma história como 50 tons (antes de qq coisa me deixem esclarecer que 50 tons é um livro muito pior q qualquer um de JQ, ok? dito isto...), que tem essas mesmas características, mas se passa neste século, então já suscita outro nível de cobrança.

Ah, eu ia fazer umas resenhas... Bom, vamos tentar misturar meus comentários e opiniões nas resenhas. Vejamos.

disclaimer: SPOILERS. está avisado. mas é legal mesmo assim, então leia logo. não vai estragar seu prazer na leitura dos livros. :)

1) The Duke & I

No primeiro livro da série nós somos apresentados à família Bridgerton quando a filha mais velha, Daphne, está entrando no Marriage Mart (o mercado casamenteiro). Na verdade Daphne é a mais velha entre as moças, mas é a quarta na prole de Violet Bridgerton, viscondessa Bridgerton, viúva, mãe de 8 filhos todos nomeados na ordem alfabética. Então vc logo fica sabendo que os oito livros q vai ler serão estrelados por Anthony, Benedict, Colin, Daphne, Eloise, Francesca, Gregory e Hyacinth. A gente tb é apresentado a Lady Whistledown, a redatora misteriosa de um jornalzinho de fofocas que faz um sucesso tremendo na sociedade londrina. Tudo sobre o Marriage Mart é mais interessante neste primeiro livro, quando é novidade pro leitor. A trama de Daphne é legal tb. Começamos com a história de Simon Basset, herdeiro do ducado de Hastings, rejeitado pelo pai por ser gago. O pai chega a dizer, durante um tempo, que o filho está morto. É legal observar que os personagens de Quinn não têm vidas perfeitas (nem todos, mas os Bridgertons meio que têm, sim), mas ela mantém um tom leve nos livros mesmo quando aborda temas mais pesados e dolorosos. Simon é um cara infeliz, revoltado e cheio de raiva, e com toda a razão. Daí o pai morre e ele vira o Duque de Hastings. Como último vingança contra o pai, decide nunca ter filhos, para que o ducado (grande orgulho do pai) saia da família Basset (o que sempre foi o maior medo do pai). Só que ele conhece a Daphne e...

Bom, vc não tá lendo Tolstói, então não tem muito risco de que este romance termine com alguém se jogando no trilho do trem, certo? Vc sabe que tudo vai dar certo no final, né? No geral a coisa toda é bastante bem conduzida. Vc cria super empatia com os personagens, vc compra o peixe, tanto do Simon quanto da Daphne, e a paixão deles é contagiante e muito muito crível (ponto sempre para JQ, a paixão é sempre crível), e os diálogos de JQ são insuperáveis. Mas é claro que tem um monte de clichês. Não, não é "claro". Alguns romances não têm tantos clichês, mas acho que é do estilo mesmo. O clichê é perdoável nesse estilo de romance.

Ai, quer saber? Estou tendo muita dificuldade de resenhar The Duke & I  sem resenhar logo...

2) The Viscount Who Loved Me

... e vcs vão entender por quê. Este é o livro do Anthony, o visconde Bridgerton, o mais velho. Começamos o livro com um breve flashback da relação de Anthony com Edmund, seu pai, que morreu picado por uma abelha quando Anthony tinha 18 anos (e Edmund apenas 38). Anthony ficou super abalado com a morte do pai, é claro, e além de tudo se tornou, bem cedo, o chefe da família e visconde Bridgerton. E Anthony adquiriu desde então uma estranha certeza de que... morreria no máximo aos 38 anos.

Hein?

Ok, gente, não vamos discutir com os demônios interiores do rapaz. Cada um sabe a dor e a delícia de... vcs sabem.

Anthony tem uns 30 e poucos anos quando resolve que é melhor é casar logo, porque, diferentemente de seu grande amigo Simon (ah, eu não contei q eles dois eram bffs? eles são), ele não teve uma infância infeliz, pelo contrário, ele valoriza pra caramba a família e também o seu título, e quer sim senhor dar continuidade a ele, como manda o figurino, fazendo filhotes machos. Porém tem aquela história de que ele vai morrer daqui a pouco, né? Então ele quer casar e ter filhos, mas não pode amar, porque senão ele só vai sofrer.

Recapitulando: Simon tem father issues e não vai ter filhos. Anthony tem outro tipo de father issues e não vai amar sua esposa. Simon e Anthony são bffs. Simon e Anthony são muito lindos, muito cafajestes, têm péssima fama de depravados e mulherengos, mas mesmo assim são cobiçados como maridos (porque eles são lindos e têm um título de nobreza e porque é super ok vc ser pegador desde q vc nunca tenha estragado a virtude de uma moça "de família", as outras moças ok).

Achou pouco? Ambos casam porque são pegos em situações comprometedoras com as moças. Ambos, em determinado momento, brigam com a esposa e saem pra ficar extremamente bêbados (o que, em ambos os casos, resulta numa conversa engraçada). Ambos vão atrás da mulher pra fazer as pazes e ela está passeando no parque e sofre algum acidente (de cavalo; de charrete). É. Sério, gente. Quando eu tava lendo o segundo livro e a menina foi pro parque eu já pensei "não acredito q vai acontecer a mesma coisa", e meio que foi. Achei pobríssimo isso, sabem? Foi um balde de água fria pra mim no segundo livro. E, evidentemente, ambos quebram as promessas que fizeram para si mesmos, porque o amor dessas maravilhosas mulheres virgens vai salvá-los dos seus demônios interiores. Elas mostrarão para eles o que é o amor, e eles mostrarão para elas o que é o prazer. Mas isso tb o título já entregava, afinal o livro não se chama "The Viscount Who Married Me Though He Didn't Love Me At All".

Mas ainda bem que eu não desisti da série, apesar dessas coincidências meio irritantes, porque o melhor estava por vir.

3) An Offer From a Gentleman

Meu livro favorito da série (quase empata com os dois a seguir, mas segue sendo melhor). Pra começar, Benedict.

Pra continuar, Sophie.

Entendedores entenderão.

Pra terminar, Cinderela. Julia Quinn teve uma ideia que pode ser bem banal, mas que ela conduziu com maestria. Ela reescreveu Cinderela, e ficou perfeito! Sophie Beckett é a filha bastarda de um conde. Ele a acolheu em casa, embora, evidentemente, jamais a tenha reconhecido como filha. Ela foi bem educada e bem cuidada. Até que ele casou com uma viúva que tinha duas filhas, e a vida de Sophie começou a piorar. A madrasta, Araminta, odiava Sophie, achava um absurdo que suas filhas fossem obrigadas a conviver com a bastarda, etc. etc. O pai de Sophie morre, é claro, e deixa uma cláusula no testamento que diz que a renda legada para Araminta será triplicada se ela mantiver Sophie em casa até os 21 anos da moça. Ela mantém, mas sob que condições? Bom, vcs conhecem Cinderela, né? É isso aí.

Depois de alguns anos de escravidão doméstica, Sophie está em Londres com Araminta e as filhas que estão entrando no Marriage Mart (here we go again!). Os Bridgerton darão um baile.  De máscaras! Oh dear, não dá pra perder esta oportunidade, certo? Os criados da casa, que adoram Sophie, a ajudam a ir pro baile, onde ela conhece Benedict Bridgerton, e é tudo lindo e mágico e fucking awesome.  Ele fica com a luva dela (muito mais sentido que um sapato, certo? mas o sapato tb tem importância na trama), que tem um brasão da família do pai dela, então ele vai procurá-la, mas ela foi trancada no quartinho. Novamente, vcs conhecem a história, né? A madrasta descobre que Sophie foi ao baile e a expulsa de casa.

Sem referências, Sophie tem dificuldades de arrumar emprego melhor do que arrumadeira, e fica se virando assim. Um tempo depois, é nessa situação que ela e Benedict se reencontram. Ela é arrumadeira numa casa no interior onde ele foi a uma festa. E Sophie está sendo violentamente assediada pelo filho dos donos da casa. Benedict a salva de um estupro (reparem como saporra tem muito mais história que os dois primeiros livros juntos!), e diz que vai arrumar pra ela um emprego na casa da mãe dele em Londres. Bom, eles têm uma viagem pela frente, só os dois. Debaixo da chuva. Ele adoece, e o que seria uma paradinha num chalé que ele tem no caminho, acaba virando uma paradona de dias. É aí q eles se conhecem melhor e se apaixonam.

O que tem de muito especial neste livro? Benedict não tem demônios interiores. Benedict não é um cafajeste mulherengo. Benedict não tem medo de amar. Benedict simplesmente se apaixona, só que por uma criada. O conflito é REAL, não é imaginário. E o conflito não é dele, é DELA. A personagem feminina é o centro da trama. Benedict faz a única coisa que é possível para alguém na posição dele apaixonado por alguém na posição dela: propõe que ela se torne sua amante (an offer from a gentleman). Isso não é exatamente ruim, nessa sociedade. É assim que é, é o que temos pra hoje, é o que dá pra ser. Mas Sophie sofreu pra caralho sendo filha ilegítima, ela não vai ter filhos ilegítimos de jeito nenhum! Ela que se case com um pobretão, que dará nome aos filhos dela, melhor que seja assim. Só que Sophie está apaixonada por Benedict (ela o reconhece, do baile, mas ele não! ou seja, ele se apaixona por ela duas vezes! awwwwww). O conflito está montado. Como eles vão dar a volta nisso?  Não dá pra sair casando com uma criada assim, do nada, não dá pra fingir que isso é fácil no século 19. Eu digo: o negócio é super bem conduzido. Quinn entrega o final feliz que vc espera, mas de modo crível. Nesse livro eu me apaixonei imorredouramente por Violet Bridgerton. Ela é coerente, mas profundamente amorosa.

Ah, e tem outra coisa bacana nesse livro: não tem Marriage Mart! É divertido, mas uma folga é muito bem-vinda.

4) Romancing Mr. Bridgerton

Quando vc tá lendo uma série de romances vc não termina um capítulo sem saber qual é o casal que vai ficar junto no final, né? Se vc começou a ler o livro da Daphne e estão falando de um tal de Simon Basset, é evidente q é com ele q ela vai ficar. Se vc está lendo o livro do Benedict e começam contando a história de uma tal de Sophie Beckett, enfim. Aí agora vc está lendo o livro do Colin. O Colin é o Bridgerton mais cool. Ele não é só bonito, ele é simpaticão. Ele não é aquele sedutor estilo cafa, ele é sedutor porque é o charme em pessoa. Eu acho que ele é o mais bonito de todos os Bridgertons, na minha cabeça. E ele é divertido.

E ele vai ficar com Penelope Featherington!!

Como assim, caceteeeee??? As Featherington sempre foram a piada de Lady Whistledown, a piada da sociedade. E Penelope mais ainda. A rechonchuda, tímida, a eternamente bullied & friendzoned Penelope Featherington, sempre vestindo os vestidos errados. Até a mãe dela (ou principalmente...) desacreditava completamente a pobre Penelope.

E aí vc tá lendo o livro do Colin e estão falando de... Penelope! O livro nem começou direito e vc já está OMG OMG PENELOPEEEEE, pq é claro que vc já aprendeu a amar a Penelope desde o primeiro livro, de um jeito q só Penelope pode ser amada. Esta é a primeira, e a principal, razão de este ser um livro muito especial: é o primeiro q vc conhece igualmente os dois lados do casal.

Aqui não temos exatamente um conflito. Ninguém tem trauma de infância (ufa, tks God), mas Penelope é toda complexada, obviamente. Outra novidade: muitos anos se passaram, e Penelope já tem quase 30. Temos uma solteirona, gente, então o famoso Marriage Mart é visto por outro ângulo. É visto do canto, da parede, é visto pelos olhos daquela moça que ninguém nunca queria tirar pra dançar, e agora menos ainda. O desenvolver do romance nada tem de repetido. Não é um flerte, uma corte, é tudo baseado em quem eles são de fato, e não numa série de regrinhas sociais estabelecidas. Aliás, Penelope é a primeira "moça de família" que dá pro cara antes do casamento! Viva! As duas primeiras se agarraram, mas não deram. E Sophie deu, claro que deu, mas ela era a criada, né? :/

Segunda razão para que este seja um livro muito especial: é aqui que a gente descobre quem é a Lady Whistledown!! Sem spoilers aqui.

5) To Sir Phillip With Love

Dá pra acreditar que uma Bridgerton ficou pra tia? Pois Eloise Bridgerton está ficando. Este livro conta a história de minha Bridgerton favorita. Eloise está se correspondendo há um ano com Sir Phillip, e tudo começou muito por acaso. Ele ficou viúvo de uma prima dela, e ela mandou uma carta de condolências. Não pararam mais de se corresponder. Até que Sir Phillip propõe casamento em um carta. De modo muito prático, pouco romântico, até, e Eloise fica surpresa. Só toma uma decisão quando Penelope, sua melhor amiga e tb solteirona, de repente casa com seu irmão Colin. Eloise se vê diante de um futuro solitário, e resolve pelo menos ir conhecer o candidato a marido.

Tem uma série de coisas que eu gosto muito nesta história. Pra começar, a própria Eloise.  Veja bem, não é que os Bridgertons (ou as Bridgertons) careçam de personalidade. Todos têm opinião, não são modelinhos muito bem aparados de personagens, o que é bom. Mas, entre as moças, Eloise tem a personalidade mais completa (calma que ainda estou lendo o livro da Hyacinth), menos agradável e mais crível. Eloise não tem nada feito pra agradar. Eloise é simplesmente do jeito que ela é, e foda-se. Comete erros, reconhece-os dentro de si mas tem pavor de admitir em voz alta que é tudo culpa dela. Humana, demasiado humana. Tem sua opinião em muito alta conta, fala muito mais do que deve, acha que está sempre certa. Vc conhece uma Eloise. No meu caso, eu conheço até bem demais. Eu sou uma Eloise.

Outra coisa legal neste livro é que estamos fora de Londres novamente, e mais definitivamente que no livro 3. A história de Sir Phillip é irretocável. Vc não tem como achar o conflito interno desse cara "forçado". O que ele passou não foi bolinho, e ele se comporta totalmente de acordo. Mal. Mas mal do jeito certo, deu pra entender? Quero dizer que tudo o que ele faz de errado é o resultado esperado dos problemas que viveu. Ele é um personagem inteiro e coerente, e carismático. Ele NÃO É lindo de morrer, nem Eloise. Legal, né? Pela descrição, ele é meio ursão, lenhador, grrrraurrrr, ok, eu adorei. *cof cof* Ah, e tem as crianças. Eu geralmente não gosto de crianças em romances de amor, a não ser que elas tenham realmente função na história. Detesto aquela coisa decorativa da familiazinha perfeita, os bebês lindos e adoráveis brincando e dormindo sempre que é preciso que durmam. Mas Amanda e Oliver são absolutamente essenciais pra história! Até Charles, sobrinho de Eloise, que faz apenas figuração na história, vive um momento que é perfeitamente normal para crianças daquela época. O fato é que, em romances de amor, sempre tem muita coisa forçada. Um perigo, uma doença, só pra alguém se aproximar, pra alguém ser salvo, essas coisas. Tudo foi bem conduzido neste livro, nada me pareceu forçado, o que se torna ainda mais evidente e natural pelo fato de que, pela primeira vez, um livro realmente se emendou no outro. A história de Eloise começou a ser traçada concomitantemente à de Colin e Penelope, algo que ainda não tinha acontecido.

Aí cheguei no livro que eu quero comentar o sexo na série dos Bridgertons. Estamos no quinto livro,e todas as vezes vemos uma moça perdendo a virgindade, certo?  É claro, estamos lendo romances q se passam na elite londrina do século 19, as moças são virgens. O casamento não pode ficar pro final do livro se a gente quer ver sexo acontecendo, então os personagens se casam depois de uns dois terços de livro mais ou menos (exceto com Benedict e Sophie). E o que me incomodava era que todas as moças sentiam mais ou menos a mesma coisa ao perder a virgindade! Não vou questionar que todas gozam, é um romance, né? Não é vida real. Afinal tá todo mundo casando por amor nesse século 19 aí, e isso já é ficção suficiente. Mas várias coisas poderiam ser diferentes de uma pra outra, e não são. Nenhuma delas reclama de dor, é apenas "estranho". Os homens tb se comportam tudo igualzinho: quero me controlar, não quero machucá-la, mas puta merda não vou aguentaaaaar. Fica chato depois de um tempo. Na verdade essa coisa nos homens me incomoda mais, porque todos os homens são muito viris e seguros, e têm uma espécie de raiva contida que vem à tona em alguns momentos, como no sexo, ou quando eles foram contrariados pela garota e estão muito de mau humor, querendo bater em alguém por qq razão. Todos eles vivem algum episódio assim, até o Colin, e não combina com a personalidade dele.

Mas, finalmente, Eloise é diferente. Não imensamente diferente, mas dá pra notar um espírito mais livre e menos passividade. Pra começar, eu adoro que ela subornou uma criada anos atrás pra saber como era a coisa toda! Como ninguém pensou nisso antes? Que bobas... Eu com certeza teria feito isso! Eloise é a primeira que vive mesmo um tesão a princípio desvencilhado de amor. Daphne vai logo se apaixonando, Kate fica naquele amor & ódio, Sophie e Penelope estão apaixonadas desde o começo. Eloise não está apaixonada por Phillip. Ele ainda é bem estranho, ela não sabe se quer casar com ele, as reações dele não são as que ela espera e ela fica, sim, decepcionada várias vezes. Mas, velho, a pomba dela gira legal pelo Phillip. E o Phillip tb tem características interessantes que o diferenciam dos personagens masculinos anteriores (embora ele tb seja todo viril e tenha father issues). Phillip não é urbano, não tinha o hábito de pegar prostitutas-atrizes-cantoras-criadas, Phillip foi casado, e infeliz no casamento, Phillip tá numa seca federal, fazendo justiça com as próprias mãos há anos. Minha gente, temos uma receita explosiva aqui. Na primeira noite dos dois eu decretei que nenhum casal será tão feliz na cama quanto Eloise e Phillip. Ok, hj eu acho q Francesca pode ser tão feliz na cama quanto sua irmã Eloise. Mas na verdade este continua sendo meu casal favorito, o que mais vai dar certo, o que alcançará a felicidade pacífica e duradoura e, enfim, eu adoro eles dois!

Então vamos a Francesca Stirling!

6) When He Was Wicked

Francesca Bridgerton casou cedo, e nós não a vimos no Marriage Mart. Casou por amor com um conde escocês, John Stirling, conde de Kilmartin, e enviuvou dois anos depois. Tinha apenas 22 anos.

Ai, gente, confesso que quando fiquei sabendo que tínhamos uma viúva na família criei grandes expectativas. Porque, vejam bem, a liberdade social de uma viúva nessa sociedade é notável,  não dava pra perder essa oportunidade de realmente fazer uma história diferente. Além de tudo Francesca não vivia em Londres, mas no interior da Escócia. Eu estava esperando uma trama mais ousada... que não veio. Não é que não se tenha aproveitado em nada o fato de ela ser viúva, mas a única diferença foi que ela era a primeira não-virgem, e ela se deu ao luxo de ir pra cama com o carinha uma pá de vezes antes de resolver se casar. Muito quentes na cama, os dois, sem dúvida. Em tese Francesca não era uma inocente, mas o casamento não a tinha transformado exatamente numa pervertida (algo me diz que o casamento da Eloise a transformará numa pervertida, sim senhor!). Mas as possibilidades de uma viúva nos demais âmbitos não foram tão bem exploradas, ao menos não pra criar uma trama mais for do convencional, sabe? Sei lá, pode ser alguém de outra classe social, por exemplo. Ou ela podia ter um amante. Eu pensei em muitas coisas, aqui não cabe ir listando tudo, mas o fato é que a história não fugiu muito daquele universozinho.

O que temos aqui? Um lindo cafa de péssima fama. Jura? De novo? É. De novo. Ah, e assim como Phillip e, como veremos no próximo livro, Gareth, nosso herói Michael Stirling tb será presenteado com a herança e o título quando menos esperava. Michael é primo do finado John, e herdou o título de Conde de Kilmartin quando John morreu. Afe. Jura que a Francesca vai casar de novo com o Conde de Kilmartin?? Vai, gente. Michael é apaixonado pela Francesca desde que a conheceu, e evidentemente guardou esse segredo por anos. Aí o John (que era super próximo dele, tipo um irmão) morre subitamente. Michael fica se sentindo mega culpado por herdar toda a vida do John, e além de tudo ele ama a mulher do finado.Caramba, até parece que ele desejou a morte do primo! Mas nada estaria mais longe da verdade, ele está genuinamente arrasado com a morte do John, então não consegue nem cogitar se aproveitar da situação em relação a Francesca. Não é que esse parte não seja bem conduzida, não, até que é, sim. O drama do Michael é muito crível. Mas tem uma parte do livro que a coisa toda despingola.

Quando Colin, mais uma vez, vai dar seus conselhos super cool (ele já fez isso com o Benedict), tipo "deixe de drama e case com a moça". Que o Colin faça isso, é bem ok, e até que ele faça isso duas vezes. Mas a mudança de opinião do Michael é meio brusca, muito epifânica. Pra quem tinha ficado anos fugindo daquilo, sei lá, ficou estranhão. E mais: pelo tipo de sentimento que ele nutria pela Francesca, o método utilizado para convencê-la a casar com ele foi nada a ver. Porque foi canalha, e não é que isso seja horrível, só achei q não fazia sentido com o que ele sentia por ela. Ele a tratou como todas as outras mulheres anteriores na vida dele. Ah, vamos conversar sobre "consentimento duvidoso"? Lembra de 50 tons de cinza? Eu sempre afirmo que houve consentimento, como tb acho que aqui houve consentimento. Nos dois casos o que houve foi sedução, sim, houve persuasão até, mas houve convencimento. Houve, portanto, consentimento. A mulher podia ter dito não, e não disse. A oportunidade foi dada e redada.

E aí a Francesca morre de culpa depois. Um pouco até q vai, mas ficou exagerado. Uma culpa e uma confusão que duraram semanas de enrolação (e sexo), e isto vindo da pessoa que tinha decidido que queria casar, então não era assim como se ela fosse pega de surpresa pela mera possibilidade de outro homem em sua vida. Ela estava atrás disso, ora. Ok, pode ser surpreendente que tenha sido o Michael. Mas simplesmente ficou forçado o excesso de hesitação da parte dela, assim como a súbita desenvoltura do Michael em ser meio cafa com ela, depois de anos de contenção e movimentos calculados. Ele tinha obrigação de ficar mais nervoso e inseguro, depois de seis anos esperando por aquela mulher, sem nem acreditar que houvesse possibilidade de ficar com ela.

Estou lendo agora It's In His Kiss, e pelo jeito temos mais um lindo cafajeste rebelde e com father issues. Pena. Reparem que, tirando Benedict e Colin, TODOS os homens têm father issues! O Anthony não sofreu na mão do pai, mas sim com a morte dele, mas tb despirocou. É claro que não daria pra fazer o mesmo com os irmãos dele, Benedict e Colin. Gregory é minha última esperança de algum homem que não seja todo perfeitamente viril. Come on, Julia, alivia a pressão da masculinidade. Os homens não são todos iguais, amore!

Aguardem mais comentários quando eu terminar a série toda!



2 comentários:

  1. Mana,
    Estou aqui pensando se o fato de tu seres escritora, faz com que tu tenhas uma percepção mais aguçada das histórias... deve ser, por que eu li todos esses livros e confesso, do fundo do meu coração, que muitos detalhes passaram batido.
    Por exemplo, o livro da Daphne é tão igual ao do Antony??? Juro que não percebi, e sabe, eu adorei os dois livros!!!!
    Concordo contigo que esse tipo de literatura é uma literatura de conforto, daquelas que a gente já conhece a fórmula, mas adora e lê sempre.
    E para mim, a Julia Quinn faz esse papel com excelência. Nós todos sabemos o que nos espera no final dos livros dela, mas quando chegamos na última página, sempre temos aquele sorriso de contentamento.
    E nesse contexto, quando eu leio os livros da Julia Quinn eu relaxo, abstraio. Talvez por isso não tenha percebido tudo o que tu disseste, mesmo que concorde que faz todo o sentido.
    Acho que tenho que ler de novo o livro do Benedict e do Colin, para ver se gosto um pouco mais... Veja bem, isso não significa que eu tenha gostado pouco, muito pelo contrário, mas confesso que esperava mais, principalmente o do Colin, por causa da Penélope.
    Ela é minha personagem preferida da série, sem dúvida. Para ela, desde o início eu queria um final feliz...
    Também acho que vou ler os dois últimos volumes antes de tu completares a tua resenha, em um exercício de percepção, para ver se bate depois... kkkkkkk
    E por fim, só a título de comentário, os Bridgertons não foram os primeiros livros da Julia Quinn que eu li, o primeiro livro que ei li dela foi The Secret Diaries of Miss Miranda Cheever, e nele, imagina só, uma "moça de família" fica grávida antes de casar... Que tal???

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    1. ah,Carol, com certeza tem a ver com eu ser escritora esse tipo de observação, acho q eu não era tão assim uns tempos atrás. mas isso não quer dizer que eu não goste, muito pelo contrário! eu adorei os livros (ok, o da Francesca eu não "adorei", mas não achei ruim, só é bem mais fraco que os outros). eu adoro essa literatura confortável, como Julia e Agatha, em que as surpresas acontecem dentro de um limite esperado. Dan Brown tem um pouco isso, né? mas tb tem livros ótimos e ruins. eu achei O Símbolo Perdido ruim ruim. ainda não li Inferno.

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