Páginas

10 de mar. de 2014

O oitavo mês

Eu não sei se vocês sabem, mas eu tô grávida. Oitavo mês. À parte todo o "oh my god cacete já é mês que vem porraaaaaaa!", como era de se esperar, pensei algumas coisas novas durante esse período da minha vida. Como EU esperava, pensei coisas novas que continuavam cabendo na MINHA cabeça. Ao contrário do que muitos esperam, gravidez não é lobotomia. Continuei sendo eu, não estou vomitando arco-íris nem chorando glitter.

Uma das coisas que eu mais tenho pensado é como é chato que algo da sua vida PESSOAL tenha que ser SOCIAL. Social como um patamar, sabe? Como uma conquista, um degrau, um status, sei lá. Não sinto que tenho que compartilhar mais com todo mundo os sentimentos em relação à minha gravidez do que os sentimentos em relação, por exemplo, ao meu casamento, minha família. Mas há uma expectativa social em volta. De que minha vida gire toda em torno dessa "bênção", desse "milagre", desse "sonho". Uma das grandes dificuldades das pessoas é justamente entender que ser mãe não é um sonho para todas as mulheres. Há as que nunca sonharam com isso, e não se tornaram mães. Há as que não sonharam e acabaram sendo mães por acaso, sorte, azar, sei lá, pela vida, pelo sexo. Há as que não sonhavam com isso, mas decidiram fazê-lo. Sou eu. De um casamento muito legal, de um homem que amo, resolvi ter um filho. Que tal se fizéssemos isso? Que tal se incluíssemos essa aventura na nossa vida? Bora se meter nisso? Bora! Foi assim comigo. E de cara tinha gente que ficava até na dúvida se eu estava realmente feliz por estar grávida, porque não anunciei da maneira como se espera que seja anunciada uma gravidez, com frases do tipo "sou abençoada! uma vida floresce dentro de mim!".

Gente. Sou eu ainda, ok? Contei no Facebook por meio de uma piadinha tola e uma referência nerd, nunca mudei meu avatar pra uma barriga ou um sapatinho, não paguei book, não contratei arquiteto, não estou contando cada semana nem relatando cada chute. Conto algumas coisas, até faço perguntas aos universitários, faço piadas e reclamo (não é pra isso que serve a internet??), porque estar grávida é muito legal e uma das coisas mais doidas que já vivi, mas super tem montes de partes chatas, incômodas e até dolorosas. Basicamente, como eu já vos disse aqui algumas vezes: continuo sendo eu.

Não critico quem faz essas coisas, de modo algum. Pra muita gente é mesmo um sonho, então ótimo! Tem que curtir ao máximo o momento em que você realiza algo que sempre quis fazer. Só não faz sentido achar que esse é o único modelo aceitável, o único comportamento esperável. Eu nem entendo direito que me deem parabéns por estar grávida. Tá, eu entendo o que querem dizer, estão me desejando felicidades e saúde (quero ambas, podem me desejar!), mas se vcs pensarem bem não é exatamente uma conquista impressionante ter prole, fêmeas de todas as espécies fazem isso o tempo todo desde que o mundo é mundo. É a natureza. É muito muito legal, sim! Mas, minha gente, é natural. Não acho que uma mulher é menos mulher ou menos completa se nunca for mãe. Mulher tem que ser mãe se quiser ser mãe. Não pode ser obrigação.

E aí tem uma coisa que vem povoando minha cabeça desde o começo da gravidez. Estar grávida me fez ainda mais defensora da descriminalização do aborto. Mulher nenhuma merece ter de levar adiante uma gravidez fruto de violência, desrespeito, desespero, desesperança. Mulher nenhuma merece seguir uma gravidez já pensando em jogar uma criança no lixo. Carregar dentro do seu corpo por quase um ano a lembrança e o DNA de um momento horrível, de um homem horrível, NÃO. Ninguém deve ser obrigada a passar por isso. Porque, minha gente, há risco envolvido, em qualquer gravidez. Tudo vai bem e, de repente, pá! Aparece uma coisinha de nada num exame, e aí é repouso, dieta, remédio, vc fica com medo pela sua vida, pela vida do bebê. Passar por isso sem querer? Não, ninguém merece.

A quem interessar possa, sim, estou feliz, curiosa, cheia de medos e expectativas, dúvidas, desejos, vontades, e, na fase atual, sendo chutada vigorosamente pelo menino que deve estar habitando esta casa - do lado de fora da minha barriga - a partir do final do mês que vem. Conquanto seja bacana trocar algumas experiências com quem já passou por isso, cada experiência é única,sim, porque cada grávida é uma pessoa individual.

É, gente... Mãe NÃO é tudo igual. ;)

2 comentários:

  1. Adorei, Bru...
    não estou vomitando arco-íris nem chorando glitter. Meus amigos vão adorar isso... risos... Beijos
    E todo meu eu no apoio ao aborto...
    sempre que for essa a escolha da mulher!!!

    ResponderExcluir
  2. Acabei de recomendar esse teu post para uma amiga que esta se sentindo estranha, até mesmo culpada por não estar vendo tudo com as lentes cor de rosa da maternidade.
    Engraçado, eu fui exatamente essa grávida que como tu disseste "vomita arco-iris e chora glitter" em todos os sentidos, mas tive muito perto de mim dois exemplos de gravidas, uma inclusive na mesma epoca que eu, que era o oposto, muito mais parecidas contigo.
    Nunca as rejeitei, nunca as critiquei, as vezes eu achava ate engraçado, pq eu falava de um jeito e a minha amiga rebatia tudo...
    Hoje nossos filhos são amigos e ela é tão amorosa e cuidadosa quanto eu... Ou mais talvez, porque eu já me vi tendo vontade de dar umas palmadas no César, e ela jamais!!! Kkkk...
    By the way, eu não dei as palmadas viu!!! Tive vontade, mas não dei. E depois ainda me senti culpada por querer ter dado!!!
    kkkk...
    Coisa de mãe.

    ResponderExcluir

tá com você!