Pois é. Eu vinha, até agora, abstendo-me de opinar publicamente (interneticamente, digo) sobre os episódios da USP, simplesmente porque não é o tipo de episódio em que eu acho que se possa confiar totalmente na versão da velha mídia (poucos são), e como era a fonte que eu tinha, abstive-me.
Mas agora resolvi falar. Ui. Nada grave, minha gente.
Fui FFLCH, antes disso fui CFCH, e pra quem não sabe, isso é a FFLCH da Federal do Pará. Tive duas experiências de universidades públicas, em Belém e em São Paulo, e só vou falar do que sei.
Não fiz parte do movimento estudantil (com isso digo que não me candidatei a nada), mas votei quando foi preciso, em diversos tipos de pleitos, tinha opinião, tinha amigos nas chapas, conheci vários tipos de pessoas, e posso dizer que a História da UFPA era muito mais ativa politicamente que a da USP. Na USP, já ia de longe avançando o processo (triste) de despopularização da universidade pública. Com esse floreio quero dizer que em Belém, quando eu era universitária, tinha muito mais gente pobre na universidade pública que na privada, e em São Paulo já era o contrário, porque via de regra o cara que tinha estudado no colégio pior não dava conta de passar na FUVEST e tinha que ralar pra pagar uma universidade privada. Isso já muda o perfil da galera.
O pessoal da UFPA já tava trabalhando, tinha que dar aula, estudei com gente que mal tinha dinheiro pra pagar o ônibus pra ir pra universidade, juro. Eu era uma das únicas pessoas com carro e celular em 97 na Federal. Já na USP, era difícil achar vaga pra estacionar no prédio da História.
Conheci sim, muito vagabundo. Engajados ou não, pq tb tem o cara que não tá nem aí pra estudar e nem por isso tá no movimento. Não liga pra nada. Infelizmente muita gente só quer balada, bebida e sexo. Não faz meu tipo. Também vagabundeei, mas meu estilo era mais a preguiça que o forró de sexta do Vadião (pra quem conhece a UFPA, dispensa apresentações).
Tem vagabundo no movimento estudantil? Claro que tem, né? Mas num tem em todo canto? Às vezes eu me irritava com a chatice do movimento, que pode ser muito chato sim senhor, e achava patético aquele povo fumando largado num sofá do Aquário (pra quem conhece a História-Geografia da USP, dispensa apresentações) em vez de estarem na aula. Bom, mas morei anos na frente do Mackenzie e achava igualmente patéticos os alunos bebendo cachaça direto da garrafa dentro de um saquinho do Pão de Açúcar, como se fossem mendigos. A juventude desperdiçada sempre me angustiou e irritou. Sim, eu sou CDF. Já perdi a vergonha disso faz tempo.
E eu tinha medo da violência. Houve casos de estupro tanto na UFPA quanto na USP no meu período de universitária. Em princípio, eu não veria mal algum em ter policiamento no campus, sinceramente. Repito: não sei como era a situação, não sei se havia reclamações fundamentadas dos estudantes a respeito dessa convivência antes do episódio virar notícia. Outra coisa que acho é que nada justifica a depredação do patrimônio público. Tem uma boa razão, quer ocupar, quer protestar? Tem todo o meu apoio. Esforce-se para não perder a razão e, com isso, o argumento. Quando se é jovem, porém (e eu não esqueço que já fui), pouca coisa é mais fácil do que perder o limite.
Quem detém a força também pode perder o limite, todos podem, e eu também conheço um pouco do tamanho do preconceito que boa parte dos policiais aprende a ter contra os estudantes. Não esqueçamos de colocar isso na equação.
Conflito de gerações faz o mundo andar, mudar. É natural e saudável. Existe dentro do jovem a vontade de mudar alguma coisa, de questionar, e quando não aparece nada de realmente grave (sim, tipo, derrubar uma ditadura, como todos estão comentando), essa força pode sim acabar sendo usada pra coisas menores. Ela pode, no entanto, começar com algo menor (vide Maio de 68) e se desenvolver como algo imenso. O senso político não deve morrer durante a democracia, ok?
Lutar pelo direito de fumar maconha no campus? Sinceramente, acho isso uma bobagem. Mas quem disse que a coisa toda se encerra nisso? Eu não disse, porque eu não sei.
P.S.: Não falei dos meus preconceitos? Bom, eu desenvolvi um certo preconceito contra os estudantes envolvidos no movimento estudantil, porque a maioria dos que conheci não queriam saber de mais nada na vida, só de jubilar. Não procuravam entender outras opiniões e gostavam de se fazer de vítimas do mundo, coisa que acho das mais feias no mundo. Mas eu sempre estou atenta aos meus preconceitos. Ou tento estar.
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