Páginas

14 de dez. de 2012

Falando de Grey, Darcy, Cullen, Heathcliff, Mouret e, implicitamente, Téo e Alexandre

Disclaimer: este não é um post que vai falar mal do 50 Shades of Grey. Se isto for contra a sua religião, tchau e bença.

Pois então, conversemos, meninas. Girl's literature. Enchendo expositores de livrarias neste fim de ano, de Austen a James, passando por Brönté e Meyer. Calma, não me linchem por colocar estas quatro moças na mesma frase. Na minha modestíssima opinião, estudam todas na mesma escola, em séculos diferentes, com personalidades e qualidades diferentes. Mas a escola, meu bem, é a mesma.

A escola que prega que:

1) Meninas querem amar e ser amadas. Muito. Intensamente. Loucamente.

2) Meninas precisam ler e pensar e sentir desejo. De preferência podendo dar mil asas ao desejo dentro da imaginação, e aí a literatura ajuda muito.

3) Meninas que leram contos de fadas e viram muito filme da Disney - mesmo aquelas que um dia perceberam ou perceberão que preferem as princesas - sonharam com um príncipe encantado bem XY mesmo.

Algum problema com isso? Absolutamente nenhum. Literatura escrita por mulher, para mulher, acho lindo, louvável, bato palmas, leio e gasto meu dinheiro com elas.

O tempero fundamental das quatro moças citadas acima é o seguinte mote, aparentemente irresistível:

- "Eu não devia me apaixonar por este cara, mas..."

E essa frase é igual aquele momento do insone, quando deita na cama e diz pra si mesmo: "tomara que eu consiga dormir hoje". Batata, não dorme.

"Eu não devia me apaixonar por este cara." Batata, já tá de quatro.

Heathcliff, Darcy, Cullen, Grey => perigo e/ou animosidade + carinha irresistível de "eu sou um perturbado, me salva!"

= Todas ama.

Que outro resultado essa equação poderia ter? Muitas vezes adicionada do elemento "história narrada na primeira pessoa por moça que se acha sem graça e é inexperiente (aka "virgem"). Esta moça pode passar o resto do livro, ou boa parte dele, se perguntando "o que é que este homem leeeeeeendo viu em mim?"

Ah, o homem tem que ser lindo, é claro. Não estamos lendo Émile Zola, gente, estamos falando de girl's literature, e não de Germinal, não de mineiros sujos de carvão e morrendo de fome.

Se bem que... leiam Au Bonheur des Dames e ousem não se apaixonar por Octave Mouret, o lindo-rico-poderoso Christian Grey do Émile Zola. I dare you, girls.

A opção menina sem graça tem muito apelo, visto que a maior parte de nós, mulheres, confrontadas com um universo midiático que nos bombardeia com imagens de mulheres perfeitas (curti a referência a Stepford no 50 Shades), tendemos a ter nossos momentos de "eu sou uma sem graça, feia, ninguém nunca vai me amar" (ou "querer me foder desesperadamente", se vc pensar em tons de cinza). O homem lindo-gostoso-tesudo-gentleman (escolha o adjetivo de acordo com século, autora, enfim) encontra, debaixo de camadas de histeria e baixa auto-estima, a beleza estonteante da menina sem graça, que só ele vê (ok, pode ser que depois ela seja vampirizada, e aí todos verão). É possível acrescentar a essa equação (e funciona muito bem) um terceiro elemento macho (o beta, minha gente, o necessário macho beta). O contraponto, que já era previamente afins da menina, mesmo ela sendo meio sem graça, mas ele mesmo não vai dar pro gasto na comparação com o Mr. Alfa-Male-todas-ama. Se o macho beta for delicinha, melhor.

A riqueza é opcional, mas acrescenta no poder. Porque eu nunca tive grilo com essa história de atração pelo poder. Você veja bem: no mundo animal, machos saem na porrada por uma fêmea, e ela dá praquele que vence a pancadaria. Qual é a pancadaria do ser humano? Geralmente é a vida profissional. Caras bem-sucedidos fizeram por merecer (ergo bem-sucedidos, aka Grey, vou ter que incluir Mouret aqui tb), ou caras ricos pq têm famílias podres de ricas (aka Cullen, Darcy), ou ainda caras fisicamente poderosos (aka Heathcliff, Cullen, Grey), tudo isso apela lááááá no âmago da nossa porção fêmea-bicho, a que escolhe um parceiro resistente e confiável para o futuro.

Não digo que vc tenha que levar isso para vida real. Homens não tão lindos, não tão fortes, nem tão ricos podem te fazer muito mais feliz que o Eike Batista ou o Brad Pitt, but again, we're talking fiction here, ladies. Fiction.

Ninguém fala muito mal de Brontë ou Austen, né? (Fox, o personagem do Tom Hanks em You've Got Mail meio que fala mal do Mr. Darcy, mas é só charme). Ambas as moças já têm muitos anos nas costas, angariaram público e respeito, fizeram lindas literaturas, embala(ra)m sonhos de gerações de moças de todas as idades (vai dizer que eu não sou mais moça porque tenho 34?). Mas a galera desce o cacete em Stephenie Meyer (me included, sometimes) e em E L James.

Senão vejamos.

Eu critico Stephenie Meyer basicamente por estas razões:

1) Ela criou um Macho Alfa ótimo, e o fez se apaixonar por uma menina que infelizmente não parecia, mas era mesmo uma sem graça, que não sabe se defender e é toda cheia de mimimi. Para fazer isso durar quatro livros, o Macho Alfa virou um bobo. Isto é um pecado imperdoável, e eu não a perdoei.

2) Ela sambou e sapateou na literatura vampírica, fazendo os vampiros virarem motivo de chacota. Aí perdeu ponto demais comigo.

Mas no quesito love story? Ela é boa.

Ah, porque tem um outro elemento que ela usa que é nitroglicerina pura. O homem que fica perturbado de desejo. Ele quer a moça, e sabe que não devia, e sabe que vai foder com a vida dela, e sabe que pode feri-la, matá-la, sei lá. Mas quer, e fica todo perturbado entre desejo e culpa. Minha gente, isso é poderoso à beça. Quem viveu uma única cena dessas na vida pregressa, sabe.

Quesito opcional: virgindade. Largamente empregado, e por razões até bastante óbvias nos séculos passados, né? Maaaas porém contudo entretanto todavia, ainda há muito mais moças virgens acima de 18 anos do que você possa imaginar (eu fui virgem até os 21), e a discussão sobre o desejo feminino na virgem é, a meu ver, necessária e muito interessante. É no desejo da virgem que a gente vai se achando, porque é o desejo que é só nosso ainda, não compartilhado. Não acho ruim ter perdido a virgindade tarde. Dá um outro tipo de experiência. (Acho isso hoje, é claro. Me pergunte aos 18 anos o que eu achava!)

A virgindade pode ser usada na literatura atual de um modo casual e até interessante (ainda não sei se James vai ser assim, mas até agora achei que foi bem empregado o recurso "moça virgem", porque a moça virgem não foi puritana; ponto pra ela) ou forçado, como no caso de Meyer. Não há NENHUMA razão plausível para, depois de mais de um ano juntos, Edward e Bella não transarem antes do casamento. Isso é irreal e inverossímil, com todo aquele desejo. Forçou.

Sobre E L James, ainda tô no (deixeu ver, pq acordei cinco e meia da manhã hj pra ler essa desgraçada), acabei de acabar o capítulo 8. Já tenho algumas críticas, bem leves. Acho o estilo dela infantil (o tema não, néam?), é escrito para a adolescente que mora dentro da adulta, mas até aí ok, afinal eu tenho uma. No que tange ao estilo da literatura erótica em si, ainda sou mais Agent Provocateur, que tem um vocabulário lindamente sexy. Mas James construiu o Macho Alfa, e o Macho Alfa dela tem todos os elementos: lindo, rico, perturbado pa porra e, como disse uma amiga minha, pirocudo. (Essa parte é opcional também. ;D) Então até agora me parece que o forte dela são as cenas de sedução, mais que de sexo. É o observar o quanto aquela moça fica ma-lu-ca, destemperada, desesperada, cruzando as pernas, suando frio, ficando sem voz e sem palavras por causa daquele Macho Alfa. Aí eu pergunto a vocês, a pergunta que justifica a vendagem deste livro:

QUEM NUNCA??

A resposta é, é claro: TODAS JÁ!

E pronto.




p.s. de autora: O que eu faço é Girl's Literature. Não só, mas também. Por essa razão essas porra toda aí me pega de jeito. Me dá gosto compor personagem macho, e eu só faço minha fêmea se apaixonar por um macho pelo qual eu me apaixono também. Entretanto, a recíproca é verdadeira. Trato meus machos com o mesmo carinho e respeito, e minha fêmea tem que ser tão interessante e irresistível quanto meu macho. São as vantagens de ser bi. ;)

3 comentários:

  1. "é escrito para a adolescente que mora dentro da adulta, mas até aí ok, afinal eu tenho uma. "

    Bem isso mesmo! Eu tbm tenho :)!
    Vc tbm escreve? Legal!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Anônima (suponho que seja um apelido!)!

      E quem não tem, né verdade? Eu tb escrevo, muitas vezes para a minha adolescente, outras para a minha adulta, mas sempre para mim, sou minha primeira leitura. Nada publicado ainda... ;)

      Excluir
  2. Rs, não sou tão anônima, comprei o boneco do Edward de vc, lembra? Meu nome é Andréa. É que só deu pra postar anônimo. Eu acompanhava sempre o Saco Laranja (vc deu uma sumida de lá né?) e foi lá que conheci esse blog, já faz tempo. Tbm tô lendo 50 tons, tô no segundo livro e tirando algumas coisinhas estou gostando. Tbm gosto de escrever, mas só pra mim, só como hobby.:)

    ResponderExcluir

tá com você!