Se eu tivesse talento, eu a desenharia em ultrarrealismo. Se eu tivesse o talento dela, eu lhe faria impressionista, em pontilhismo, Seuratiana, ou um Renoir, ou um Boticelli.
Ela é minha primeira criatura, meu permanente amor de alma, e eu a vejo inteira e perfeita na minha frente, e como eu queria que vocês a vissem. Seu sorriso não é muito largo, não domina o rosto inteiro, contém-se mas contagia os predipostos. Os cabelos longos, volumosos, de cor impossível, mel ou rosa, castanhos, sobrenaturais, fantásticos, inventados, cantados em verso e prosa, o rosto branco, o queixo redondo, o nariz perfeito, os olhos tristes, grandiosamente verdes, a boca pequena, redonda, os lábios médios. Ela podia ser muito que não é, que se foi roubando a alegria de ser durante anos, dez anos, mas encerra em si aquela possibilidade do pudim de leite, aquela possibilidade do alegre que só escapa no sublime da arte, mas pouco na alegria da vida. Ela ri da desgraça, e o riso da desgraça nunca é como o riso da alegria. Mas sua desgraça é risível, porque tem amor, tem paixão na sua desgraça, tem terror na sua glória, ela e tudo nela está contaminado pelo medo e pelo belo. Tem atração e enlevo pelo pecado, curiosidade mórbida de felicidade, um dispositivo de foda-se mal ajustado, um ardor imenso, uma paixão inominável, cedo demais, torta demais, grande demais, demais sem fim.
Ela aceita, e então não, ela luta, ganha e perde no mesmo golpe. Traz no nome a sorte, o azar, a bendita, a desdita, o destino.
Criada em 12 de julho de 1998, nascida em 12 de fevereiro de 1985, faz hoje no mundo dela, que é meu, 28 anos.
Feliz aniversário, Ventura García Fontain.
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