É tão difícil receber críticas. Pra mim é. Especialmente de quem eu gosto e admiro. Talvez eu também não saiba criticar, me omita, por medo de magoar. Talvez seja preciso aprender.
Pessoas que se gostam, respeitam, admiram, amam até, não precisam concordar em tudo. Quando começamos uma amizade ou um amor, sempre aparecerão novidades, novas descobertas sobre o outro, e algumas delas podem pôr em cheque todo o bom sentimento anterior. Você já está amiga daquela moça afetuosa e inteligente há mais de um ano. Numa conversa, descobre que ela é preconceituosa. O cristal se quebra. Nunca mais, nada será igual.
Talvez a amizade acabe, se for algo de grave (pra mim, preconceito é). Mas bom mesmo é quando você descobre uma diferença e você aprende a respeitar. Meu melhor amigo só gosta de azul. Ele é meio radical com azul, e eu adoro azul também. Quando estamos os dois vestindo azul, ele está feliz e lembra de porque me ama. Mas eu também visto verde, amarelo, roxo, e acho que gosto mais de rosa e branco do que de azul. Nessas horas acho que ele esquece um pouquinho do porque me ama. Talvez se questione. Não sei o quanto o azul é importante pra ele. Eu gostaria de ser mais importante que o azul e gostaria que ele não gostasse menos de mim quando uso rosa pink.
Eu uso rosa pink. Eu entendo o negro, o cinza, o bege, acho bonito, mas eu sou rosa pink. Eu sou alegre. Eu sou otimista pra caralho, eu faço jogo do contente, eu sou uma escritora que, quando mira pra cima, mira em JK Rowling. E não é que eu não possa mirar, sei lá, em Eça de Queirós. Eu adoro. Mas não é pra onde segue minha mira natural.
Por que é tão difícil compreender que uma pessoa que goste de Bach e Chico Buarque possa preferir compor sertanejo? Não, eu não gosto de sertanejo. Estou dando um exemplo. Estou falando de mim, de expectativas a meu respeito, não só minhas, mas também dos outros. Mas também minhas. Eu alcanço García Márquez, eu alcanço Eça, Zola, Tolstói, Balzac, Shakespeare. Eu os alcanço, eu gosto deles, mas eu, o meu eu mesmo, a minha estação de rádio toca na frequência de Rowling, Gaarder, Bantock, Christie, Doyle, comercial de margarina (eu sei, Ane! sou eu que estou dizendo, tá amore?) e de Coca-Cola. Eu sei que existe uma hierarquia de erudição, tenho plena consciência disso. Talvez eu simplesmente não queira ter uma multinacional e fique mais contente com uma bodeguinha de interior. Talvez eu prefira a vida de balconista à de CEO da literatura. Eu adoro a sensação eufórica da minha escrita, eu adoro a euforia na minha vida, das paixões sem motivo, porque paixão não tem que ter. Eu adoro procurar e criar alegria, provocar o riso, o heart racing, o inclinar da cabeça e o enternecer. Eu gosto de provocar o prazer imediato. Talvez eu queira vender chocolate, e não absinto.
Mas há muito a aprender. Há quem ache que vendedor de chocolate é uma coisa idiota de se almejar como carreira. E eu entendo perfeitamente as vantagens de vender ambrosia e absinto. Acho luxo. Acho glam. Eu compraria seu absinto e sua ambrosia. Um torrão de açúcar, uma colherinha de café do seu caviar. Eu não te acho besta, prometo. Eu acho do cacete você ser de raiz e preferir vender rapadura e pé de moleque. Na sua banquinha toca samba e não entra chocolate belga. Na minha entra e eu toco Adele, e eu adoro, então não me desculpe, porque não vou pedir desculpas pelo meu gosto.
Minhas preferências não me limitam, eu luto diariamente por isso, acreditem. É consciente, é uma escolha minha diária. Não me limitar pelos meus gostos, pelas minhas preferências. Mas são minhas, e são eu. Eu alcanço muitas estradas, eu poderia trilhar muitas, muitas delas. Mas eu escolho a minha.
Eu podia estar matando, eu podia estar roubando. Estou só me divertindo. É assim que sei viver. Pelo prazer.
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